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Hexagrama Fù

11º mês do Calendário Lunisolar





"Quando o Yang reaparece, isso é Fù" (Yi Jing) 

 Sucede a "Responsivo", Kun, o Hexagrama que não possui uma única linha yang, parecendo que o yang desapareceu e só o yin prevalece. Por isso, quando Kun está no controle, a prioridade para o praticante é de se recolher e guardar o yang no corpo. Meditando, nutrindo o corpo e a mente, evitando ao máximo o desgaste de energia, diminuindo a actividade, quer no interior quer no exterior onde, por acção da temperatura baixa, obrigaria a um maior desgaste do Wei Qì (qì defensivo) e assim a uma redução do yang no corpo. Por isso, evitar expôr-se ao frio externo e buscar ficar mais dentro de portas, praticando o Neidan, nutrindo o Yang do corpo, é o indicado. 

FÙ é o aparecimento do primeiro yang. O começo da ascensão do yang que irá culminar, com o tempo, em Qian (Céu), o yang absoluto. Fù é assim comparável à primeira fase de uma gravidez, em que a força do yang sustenta e impulsiona o princípio da vida, pleno de potência, para que esta se traduza num novo ser, cheio de força e vitalidade. Por isso, é uma fase extremamente importante. Tal como uma futura mãe que cuida que a vida que transporta no seu útero usufrua de todas as condições para que vingue, assim deve o praticante fazer por forma a que este yang "bebé" possa amadurecer e assim reconduzir a pessoa ao Céu, Qian, o pleno yang. 

No Solstício de Inverno, o Yang começa a ressurgir, o que equivale a dizer que um novo ciclo de yang qì começa, com todas as promessas que contém. Na antiguidade, na China, na dinastia Zhou, o novo ano começava com o Solstício de Inverno, tal como no Ocidente celebramos o novo ano, a nova luz, poucos dias após a data formal do Solstício de Inverno e que, para a maioria, conta como um recomeço. E é. 

Aproveitar este recomeço é de extrema importância e, para isso, perceber através do estudo do Hexagrama Fù (24), Retorno, a informação que permita realizar os anseios que cada um coloca neste novo ciclo. 

O Hexagrama Fù é formado por duas partes. Na parte inferior encontra-se o trigrama Zhen, Trovão. Zhen é caracterizado por um movimento forte e inusitado, por isso é chamado de Trovão. Isto representa o impulso original do yang, o impulso gerador de vida que, como um trovão, num instante ilumina e vivifica toda a escuridão. À escala universal, podemos comparar com o Big Bang. Na lógica do Yi Jing, o trigrama inferior num hexagrama é conotado com o apecto interior. Neste caso, Zhen no corpo pode ser visualizado como Qi vermelho, Qi de Fogo (huo qì). 

O Trigrama que compõe a parte superior do hexagrama Fù é Kun, Terra, o Receptivo ou Responsivo, composto apenas por linhas quebradas, ou yin. Logo, yin absoluto, que significa quietude e imobilidade. Como este trigrama superior está conotado com o aspecto externo, traduz a necessidade de refrear a actividade externa, por forma a, por um lado, não exaurir o yang que agora nasce e, por outro, a nutri-lo, dando-lhe assim a possibilidade de crescer. 

Assim, Terra, a Mãe, responde, criando as condições para que Zhen, o Trovão, que é o filho mais velho, possa agir sem obstruções. 

 O Comentário do Rei Wen diz: 

 "Retornar 
Próspero e Suave. 
Sair e entrar. 
Não há dano. 
Os amigos aparecem. 
Sem falha. 
O Tao de Desvanecer e Retornar. 
Em sete dias chega o retorno. 
Favorável ter aonde ir". 

Tradução livre para o português de "The Complete I Ching", do Mestre Alfred Huang. 


 "Alcança o Supremo Vazio 
Mantém a mais profunda quietude 
Quando os dez mil seres ascendem e decaem, 
Contempla o seu retorno." 

Dao De Jing, cap. 16 


 Feliz Solstício de Inverno. 



 José Barreno

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