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Acerca da Respiração


Just let stay and contemplate, arriving to the consciousness of wú wéi zhī Dào.
Let stay and contemplate, means not to use your active mind. Because nothing else needs to be done, operating in such an everlasting way, is why non action must be taken.

When observing purple color during meditation it implies the utmost higher resonance.
This means SānQīng resonance, operating in an intermediate state, without form but still with image.
The vibration in this level of meditation is very high, increasing the power within the body.
This power is then acquired as "Higher without response", and the practician will know that thought is no more required.
In"JY- Cadernos de meditação"


Desde o momento do nascimento que a vida começa por respirar. Devemos assim ao acto de respirar o facto de aqui estarmos e em primeira instância nos mantermos vivos. Aliás, podemos estar dias sem comer nem beber, mas no que toca à respiração apenas conseguimos dela prescindir por breves minutos. Por isso, esta deve ser observada com toda a atenção, visto haver fatores que a influenciam a vários níveis, como os aspectos mentais, e que concorrem para que a sua operação possa ser melhorada ou piorada. A mente, que funciona como uma bússola do conjunto orgânico, tem influência direta no modo como respiramos. Para que tudo funcione de uma forma que não contribua para que o corpo se desregule, unir a mente à respiração é parte essencial.
Unir a mente à respiração implica regular a mente, bem como a respiração.
Regular a mente (tiáo yì) significa focar a mente num só ponto. Na meditação taoista, quando se utiliza uma postura estática, armazena-se o Yì (pensamento) por forma a garantir que o shén qì (sopro da consciência) alcance todo o corpo. Desta forma, sem interferência, shén qì pode circular sem resistência. Este método é conhecido como Cún Shén Fǎ, ou método de preservação da consciência.
Regular a respiração (tiáo xī) significa alcançar um estado de suavidade respiratória comparável ao do bebé, profunda e plena, abastecendo todos os sistemas do corpo em pleno desenvolvimento. Para isso, devemos inspirar o máximo de Qì fresco (Qīng qì), expirar o qì sujo (zhuó qì) e deixar o corpo encher-se de Qì renovado. Deste modo pode manter-se o shén apaziguado e o corpo tranquilo, e assim preservar a Unidade (Bǎo Yī). Este método é designado por Guān shén xíng qì fǎ, ou método de observar o shén e mover o qì. Este método foi bastante utilizado na dinastia Han oriental (de 25 e.a. até 220 e.a.) e desenvolveu-se com a junção da respiração à mente na dinastia Wei Jin (cerca de 220 a 420 e.a.).




Ao longo da vida, a respiração tende a ficar mais curta e rápida, reduzindo a capacidade de oxigenação em cada inspiração; por outro lado, na expiração, a eliminação de CO2 decresce consideravelmente, levando ao acumular de toxicidade no organismo, com influência direta na capacidade regenerativa das células, o que conduz a um estado de “poluição” orgânica geral que afeta diretamente o ph orgânico, produzindo assim as condições ideais associadas a estados inflamatórios, que por sua vez são o terreno propício ao desenvolvimento de patologias que a termo se revelam graves. Por isso, regular a respiração assume papel essencial na regulação da saúde.

Um estado mental alterado influencia o ritmo respiratório, o que concorre diretamente para um estado de saúde desequilibrado conducente à doença, como atrás descrito, pelo que
integrar respiração e mente num processo que produza tranquilidade e que aumente a dinâmica respiratória no sentido de melhorar a capacidade de inspirar e expirar é essencial, funcionando nos dois sentidos, ou seja: regulando a respiração ajuda a regular a mente, permitindo um quadro emocional mais equilibrado, proporcionando a capacidade de responder melhor aos desafios da vida num ambiente exigente como o dos nossos dias e, por outro lado, regulando a mente, ajuda a regular a respiração em termos de frequência e intensidade, contribuindo deste modo para uma vida mais saudável e plena. É, portanto, da maior importância que o qì da respiração e o foco da mente se encontrem e prossigam juntos de forma mais pausada e plena. Para isso, o foco da respiração deve ser deslocado do tórax para o baixo ventre aumentando a capacidade respiratória, bem como o movimento do diafragma, que por sua vez produz um efeito de massagem interna, quer na inspiração quer na expiração, possibilitando assim uma melhor nutrição das estruturas aí implicadas.



Assim, mente e respiração afundam no dān tián, conforme à linguagem taoista.

Dān tián significa na língua chinesa campo da medicina, do remédio ou elixir. O corpo, do topo da cabeça até ao períneo, inclui três destes campos e por isso são designados de dān tián superior (Shàng dāntián), médio (zhōng dāntián) e inferior (xià dāntián) e são considerados como campos de produção de energia (qì) fundamentais no corpo. Visto que a prática se inicia de baixo para cima numa progressão ascensional, quando se refere o termo dāntián, este significa, normalmente, o campo de energia inferior (xià dāntián).

Afundar no dān tián significa colocar a mente encostada à coluna, na zona lombar e aí respirar.
Respirar enchendo e vazando o abdómen, sentindo a base da coluna, a zona lateral e o ventre.






 Quando nos focamos num ponto significa que o calor ou qì será para aí conduzido, de acordo com o antigo aforismo de que a mente conduz o qì. A sensação de calor que aí se fará sentir irá com o tempo e a prática ocupar todo o dān tián, chegando então ao momento em que ascenderá de forma suave e natural, sem esforço, pela base da coluna dirigindo-se para o alto.


Esta sensação é concreta e espontânea e a sua descrição absolutamente esclarecida, comprovável pelo reconhecimento destes sinais, que permanecem há milênios como indicadores do sucesso da prática.
O processo pelo qual se transforma jīng em qì no baixo ventre permite, por acumulação, a “abertura” do canal Dū, ou o governador do yáng qì, que corre de forma superficial a partir do cóccix ao longo da coluna até ao topo do crâneo, descendo depois até ao lábio superior, despoletando o processo conhecido como pequena circulação celestial.





Este processo baseia-se na compreensão de que a água contém em si o fogo ou qì original, visto que, de acordo com a teoria constante do Yǐ Jīng, no processo da criação o trigrama Céu, composto por três linha contínuas, portanto yáng ou polaridade positiva, cede um destes ao trigrama Terra, yīn, emprestando assim capacidade dinâmica ou movimento e que resulta no trigrama Água. Este yáng da água é aquele atrás referido como Qì original.




Trigrama Céu cede Yang ao Trigrama Terra, formando assim o Trigrama Água: 






Na óptica taoista, o yáng governa.

No corpo, todas as funções dependem do yáng. Sem este, a temperatura do corpo diminuiria as circulações ao ponto de fecho de todos os sistemas, o que provocaria o colapso do corpo físico e a impossibilidade da experiência de vida na forma.
Assim se entende porque o Yáng qì é primário ou origem e, portanto, essencial à vida.
Por isso a prática é orientada no sentido de cultivar o yáng qì, aumentando a termogénese corporal e desse modo melhorando, por regulação, todas as funções corporais.
Estas funções do corpo são yīn, porque substanciais em essência, mas necessitam de temperatura para cumprirem com eficiência as suas funções. Percebemos deste modo que o yáng tem necessidade e urgência em se estabelecer no substancial, com ele interagindo, primeiro como origem, depois como causa, finalmente como dependente. Origem porque gera o yīn, causa porque o impulsiona a circular e ascender, e dependência, porque sem yīn não existiria yáng, visto que doutro modo a sua ação não encontraria base material para se fixar e dispersaria.
Sem o qì agregante do yīn, o yáng qì dispersa como poeira estelar. A relevância do yīn como estrutura essencial (tǐ) é muitas vezes relativizada, senão mesmo relegada, para os confins do pensamento. Isso retira de forma significativa a possibilidade de substancializar de um modo mais efetivo e logo útil, a sua utilização, ou operação (yòng).
No corpo, os órgãos desempenham este papel estruturante, fixando, co-gerando e veiculando por todo o corpo jīng e qì, que são, em si, um produto, veículo e extensão do próprio shén no mundo das formas e das coisas.
Quando integrados, resultam na Suprema Medicina de ShàngDì, o Imperador de Jade, que determina que esta é composta pelos três tesouros do humano, shén, qì e jīng, ou consciência, sopro e essência.
O termo “fusionados” será o mais apropriado, no sentido que era algo que estava separado por ação da mente desordenada, que ao produzir pensamento alterado pela dinâmica mundana, conduz à emoção, que por sua vez leva ao desejo, numa cascata contínua que produz caos e dessa forma sofrimento. Quando aquietada e limpa de pensamento excessivo, a mente permite gerar vazio (xū) suficiente para que shén, qì e jīng funcionem de forma integrada, fundindo-se num processo físico por ação do calor, fazendo com que o que antes se encontrava separado opere numa unidade agora integra.
Por isso a prática da não ação (wú wéi) é tão importante.


José Barreno



Comentários

  1. Sempre a aprender!
    Obrigada pelo acompanhamento sempre importante quando se trata de prática.
    Há sempre aquela tendencia de andar a encher o vazio...em vez de.... sentir o universo ou simplesmente respirar.

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  2. Oi Zé. Simplesmente magnífico! Quem sabe sabe, e tu és um deles..! Maravilhoso!
    Abraço
    Nuno Brazona
    Algarve

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